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Imagine assistir a um anúncio — seja na TV, no celular ou numa loja — e ter sua atenção guiada por mecanismos invisíveis. Não só isso: sentir-se compelido a comprar, ainda que você não perceba o que exatamente disparou o gatilho. O neuromarketing, em especial técnicas como EEG (eletroencefalograma) e eye-tracking (rastreamento ocular), já bomba fora do laboratório. Aqui investigamos como isso está sendo usado no Brasil, quais os dilemas éticos, até onde vai “ler a mente” do consumidor, e quem está nessa linha de frente no nosso mercado.
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O que são essas tecnologias e como funcionam
- EEG (Eletroencefalograma): mede a atividade elétrica do cérebro em diferentes regiões com eletrodos. Pode indicar níveis de excitação, atenção, engajamento emocional, surpresa etc. Quando aplicado ao marketing, capta reações cerebrais inconscientes a estímulos — anúncios, cores, layout, som, narrativa.
- Eye-tracking: monitora para onde o olho olha — foco, movimento, quanto tempo fixa em cada elemento visual. Muito usado para ver se a pessoa percebe um banner, se lê determinado texto, se visual destaca produtos na prateleira etc.
- Outras técnicas relacionadas: medição de resposta galvânica da pele (sudorese, suor frio), expressões faciais automáticas, ritmo cardíaco, biometria em geral. A combinação com machine learning potencia extração de padrões que nem o participante consegue verbalizar.
Exemplos e casos existentes no Brasil
Não é ficção: há empresas brasileiras usando essas técnicas — ou pelo menos investindo em estudos com elas — e metodologias que combinam elementos de neuromarketing.
- Forebrain
A Forebrain é uma das empresas mais destacadas no Brasil que atua com neuromarketing. Eles usam EEG para avaliar reações neurológicas em campanhas e anúncios, medir “disponibilidade mental” da marca, engajamento, impacto emocional etc. forebrain.com.br
Marcas como Santander já aparecem como clientes para esse tipo de estudo, segundo depoimentos da própria Forebrain. forebrain.com.br - BRAIN / Brain Estudos de Comunicação
Há um serviço chamado “BRAIN” que realiza estudos de comunicação publicitária avaliando comerciais nacionais usando metodologias neurocientíficas, com EEG para medir atividade cerebral, para comparar eficácia entre anúncios. brain.forebrain.com.br - Integral Ad Science (IAS) – Plataforma “Quality Attention”
Mesmo que global, essa empresa opera no Brasil. A plataforma une rastreamento ocular com machine learning para medir qualidade de mídia e atenção do público, capaz de medir onde o olhar vai, quanto tempo permanecem, se rolou a página etc. Mobile Time+1 - Kantar Brasil
Oferece soluções com realidade virtual e rastreamento ocular para entender decisões e envolvimento emocional com conteúdo. cdna.kantar.com - Universidades / Pesquisas públicas
Há teses (TCCs, dissertações, artigos) brasileiros que tratam especificamente da percepção ética do uso de neuromarketing, comunicação de risco usando EEG, e estudos sob eye-tracking. Exemplos: “A percepção ética do consumidor sobre o uso do neuromarketing” na UFSC; estudos da USP que usam EEG em campanhas públicas ou de saúde. Repositório UFSC+1
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Ética: onde mora o problema
Lá vem o ponto crítico. Usar essas técnicas levanta muitos dilemas — e não há respostas fáceis. Aqui estão os principais:
- Consentimento informado e transparência
- O consumidor normalmente não sabe que está sendo monitorado em seu cérebro ou em seus padrões de atenção. Isso é quase invisível. O que se vê é “testes de percepção”, mas EEG + eye-tracking equivale a acessar camadas inconscientes.
- Ética exige que o voluntário saiba exatamente o que será monitorado, como os dados serão usados, quem vai ter acesso, por quanto tempo serão guardados etc.
- Privacidade e dados sensíveis
- Atividade cerebral pode revelar muito: predisposições emocionais, nível de estresse, até traços de personalidade. Algumas dessas informações podem ser consideradas dados pessoais sensíveis.
- A Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) do Brasil define dados pessoais sensíveis. Embora ainda não haja uma regulação específica sobre neuromarketing, LGPD se aplica nesses casos se os dados forem individualizados ou identificáveis. O risco de vazamento ou uso indevido existe. neurotech.com.br
- Manipulação vs persuasão
- Onde persuasão legítima termina e manipulação indevida começa? Se empresas souberem exatamente o que aciona os gatilhos emocionais de cada consumidor, poderiam usar isso para vender a qualquer custo, explorar vulnerabilidades — medos, inseguranças, vulnerabilidade socioeconômica, psicológica.
- Isso cruza com ética de publicidade, responsabilidade social das empresas.
- Desigualdade de informação e poder
- Consumidor comum dificilmente tem conhecimento para entender que está sendo alvo de neuromarketing. Isso dá poder desproporcional às empresas que têm capital para investir nessas tecnologias.
- Há risco de que normas e regulações se desenvolvam tarde, deixando muitos abusos.
- Regulação incipiente
- No Brasil, LGPD cobre dados pessoais, mas não há lei específica para neuromarketing ou neuroética aplicada a marketing com EEG / eye-tracking.
- Regulamentação de propaganda já impõe algumas restrições (publicidade enganosa, abusiva etc.), mas técnicas neurocientíficas avançadas ainda operam em zona cinzenta regulatória.
- Validação científica e credibilidade
- Muitas empresas vendem “neuromarketing” quase como mágica, sem metodologia clara, sem replicabilidade, com amostras pequenas ou vieses.
- O risco de conclusões erradas, de anúncios não eficientes, ou pior, anúncios manipulativos com base em pseudo-ciência.
Até onde vai “ler a mente”? Limites práticos e teóricos
- Mesmo EEG não lê pensamentos específicos: não há um “pensamento” como palavras ou frases sendo acessadas. A tecnologia captura padrões elétricos, que são associados a estados emocionais, de atenção etc., mas a interpretação depende de modelos, inferências, correlações estatísticas.
- Ruídos, contexto, variáveis externas tornam interpretações complexas.
- Eye-tracking mostra onde olho vai, mas não mostra por que isso aconteceu. Pode não indicar intenção real de compra, ou pode haver distração etc.
- Aspectos culturais, individuais — experiências passadas, personalidade — não são captados plenamente. Mesmo entre participantes de estudo, variabilidade é alta.
Casos controversos possíveis / o que investigar
- Empresas que usaram neuromarketing para campanhas invisíveis: anúncios disfarçados, formatos que disparam gatilhos emocionais em momentos de vulnerabilidade. Alguma agência pode ter feito isso, embora não haja denúncias públicas amplas no Brasil até hoje, pelo que foi possível apurar.
- Uso de técnicas sem aviso claro ao consumidor: em lojas, displays que ajustam visual conforme atenção sem informar que há monitoramento.
- Coleta de dados cerebrais ou de atenção sem anonimização adequada.
Regulação, recomendações e limites que deveriam existir
Para que o uso do neuromarketing ocorra sem riscos éticos inaceitáveis, proponho limites e recomendações:
- Regulação específica ou diretrizes de certificação
- Criação de normas técnicas que definam o que é aceitável: como deve ser o consentimento, quais dados são sensíveis, como anonimizar etc.
- Certificação de boas práticas em neuromarketing.
- Transparência obrigatória
- Aviso claro quando campanhas ou produtos usarem neuromarketing ativo (EEG, eye-tracking etc.).
- Política de privacidade específica para dados de neurociência.
- Limitar uso de dados sensíveis
- Proibir (ou restringir fortemente) uso de dados neurológicos para diagnóstico ou inferência que ultrapasse a simples avaliação de atenção emocional, salvo em contextos muito regulados e voluntários.
- Exigir anonimização de dados.
- Supervisão regulatória
- Órgãos de defesa do consumidor (Procon), da proteção de dados (ANPD), agências de publicidade, entidades acadêmicas monitorando práticas.
- Possível regulação universal ou de ética geral de pesquisa adaptada ao contexto comercial.
- Fiscalização e sanções
- Penalidades claras para uso abusivo, publicidade enganosa que se aproveite de vulnerabilidades emocionais.
- Quando descoberta manipulação ou exploração indevida, responsabilização legal.
- Educação do consumidor
- Informar o público sobre o que é neuromarketing, como pode ser usado, seus direitos. Consumidor consciente é barreira forte contra abusos.
Conclusão
Neuromarketing com EEG e rastreamento ocular já é real no Brasil — não é mais um conceito futurista. Empresas como Forebrain, estudos como o BRAIN, ferramentas de rastreamento ocular pela IAS, Kantar etc. apontam para uso prático e crescente.
O ponto central é: quanto mais escondido isso estiver, maior o risco de manipulação e perda de autonomia do consumidor. Na visão que proponho, enquanto empresário ou gestor de marca, trabalhar com essas tecnologias exige visão ética clara: transparência, consentimento, proteção de dados, limites no uso de inferência.
Se não fizermos isso, o que hoje parece vantagem pode se transformar em desconfiança, regulação severa ou até proibição. Quem usar neuromarketing de forma responsável vai ter diferencial competitivo sustentável; quem abusar, vai pagar caro.
“Se até os sensores cerebrais já mostraram que você precisa de mais velocidade e memória, imagina seu dia a dia sem travar? Os notebooks no Mercado Livre estão com ofertas que vão direto ao ponto: desempenho, preço justo e entrega rápida. Escolha o modelo certo e deixe o cérebro focar no que importa, não em tela congelada.”